Nesta quarta feira acontecerá a Assembléia ordinária que definirá os novos integrantes da diretoria da Federação Paranaense de Montanhismo, aonde irei entregar meu cargo de diretor de escalada na entidade.
Na penúltima assembléia em 2008, foi votada a filiação direta de pessoas físicas na federação, que foi reprovado, com meu apoio, diga-se de passagem.
Minha visão na época era de que a filiação direta iria criar uma competição com os clubes de montanhismo, que poderiam entrar em conflito e transformar a federação em um clubão estadual e os papéis entre clube e federação poderia ser confundido.
Naquela oportunidade escrevi
uma coluna no AltaMontanha, em que eu culpava os mais experientes de serem pouco participativos, não passando adiante sua experiência na montanha e portanto não reproduzindo a chamada cultura do montanhismo. Pra mim, clubes seriam os locais aonde esta cultura seria disseminada.
Eu só não sabia dos motivos que as pessoas mais experientes não estavam mais no clube. Hoje sei que alguns nunca deixaram de estar,
mas só aparecem quando tem interesse. Entretanto pude com minha própria experiência ver que pelo menos no Paraná, estas agremiações são um convite à antropofagia...
Na quarta feira não entrego somente meu cargo na Fepam, vou também me desassociar ao Clube Paranaense de Montanhismo. Instituição que eu ajudei com muito trabalho voluntário. Só com cursos de escalada arrecadei mais de 6 mil reais, dinheiro que foi suficiente para comprar muito equipamento de escalada, reativando esta diretoria que estava esquecida e fazendo muitas palestras, sempre passando gratuitamente o meu conhecimento. Com o dinheiro também compramos um data show, para ajudar nas atividades sociais de quarta feira, sem dizer que promovi o clube por todo o Brasil e exterior. Levei até camisa pro topo de algumas montanhas andinas e influenciei muita gente a se associar.
Gratidão não é uma coisa muito corrente na vida das pessoas. Quando em
um assunto polêmico fui contra à opinião do “dono” do clube, fui ridicularizado e colocado no ostracismo. Tentei levar o tema à debate de forma polida e educada, mas fui boicotado e assim as escadas no
Pico Paraná foram recolocadas junto com outras facilidades urbanas da mesma forma tacanha e unilateral como foram retiradas, minimizando pequenos impactos locais, mas potencializando grandes
IMPACTOS, pela extensão de todo o resto daquela trilha. Uma atitude que no futuro irá trazer restrições à liberdade, pois infelizmente montanhas não são lugares para todos. Trilhas têm capacidade de carga e as dificuldades naturais desta montanha poderiam por si realizar uma seleção natural sem a necessidade de controle e proibições, que ainda virão...
Não se trata da decisão da maioria, mas sim da imposição. Nunca ninguém ouviu meus argumentos, então como a maioria poderia chegar a uma conclusão? Fui calado com demonstrações de poder: VC q tome cuidado com suas atitudes e textos sem embasamento...pode até entender de geografia, geologia ou o que quer q estude... agora de montanhismo ainda tem muito q aprender...
Se você teve o trabalho de ler a
minha coluna de 2008, deve ter percebido a maneira que eu pensava até então. E se tem algo que aprendi no montanhismo é que tudo é como é, porque as decisões já foram tomadas, mas eu achei elas haviam mudado (
a história se repete?)
O Paraná está desatualizado em relação à
ética do montanhismo mundial há pelo menos 60 anos e há 27 em relação ao Rio de Janeiro. Aqui, até hoje, as pessoas não conseguem entender o significado do
Manifesto pela escalada natural de André Ilha, publicado naquele longínquo 1983. Certamente o que Ilha sofreu naquela época é o que pessoas que tem um pensamento mais evoluído hoje sofrem no Paraná. O problema é que no Paraná de hoje, a contra-evolução é imposta, já que não é permitido a presença de montanhistas individuais na federação, que é dominada pelo pensamento dos “donos” de clubes que não hesitam em calar e ridicularizar quem pensa diferente, realizando verdadeiras inquisições e caça às bruxas aos "anti-éticos" e "criminosos ambientais" que tanto insistem em explorar novas montanhas, sair das trilhas e fazer coisas novas.
Chegou a hora de mudar. A evolução já aconteceu e o Paraná não pode persistir em continuar com seu atrasO. Naquela ocasião, eu falei que a melhor solução para lidar com os problemas ambientais seria a divulgação da chamada “cultura do montanhismo”, formando pessoas conscientes que pudessem freqüentar nossas serras sem estragos à ela. “Apagar fogo, ajudar a conter a erosão, isso tudo é importante, mas paliativo, pois não vai combater o principal problema que são as pessoas, ou melhor, a má formação delas”.
Entretanto não é este o método escolhido. Escolheu-se nivelar tudo por baixo, pouco importando com os valores do montanhismo. O tiro final da prepotência e demonstração de pOder e intolerância foi o episódio de difamação do proprietário da Fazenda que dá acesso ao Pico Paraná, que somado ao boicote ao diálogo sobre a instalação de escadas na montanha, desrespeitou a todos os apelos da
declaração do Tirol colocados abaixo:
• Aceitem os riscos e assumam responsabilidade
• Equilibrem seus objetivos com suas habilidades e equipamentos
• Joguem por meios razoáveis e relatem honestamente
• Esforcem-se pela melhor prática e nunca parem de aprender
• Sejam tolerantes, respeitem e ajudem uns aos outros
• Protejam o caráter selvagem e natural das montanhas e paredes
• Apóiem as comunidades locais e seu desenvolvimento sustentável.
Por todos estes motivos eu vejo que neste local aonde anteriormente acreditei ser o caminho da evolução, é na verdade usado para “promover” o
retorno ao passadO. Não vamos ficar parados e nem se submeter às inquisições e desovas muito menos à acusações. Montanhismo se faz na ponta da corda e não precisamos de
escadas,
proibições,
regras absurdas e muito menos dos
síndicos de montanha.
Por isso meu pensamento evoluiu: Filiação direta à FEPAM SIM!