18 de setembro de 2009
A primeira viagem, a primeira montanha...
Isso foi há muito tempo atrás. Eu tinha apenas 17 anos, quase nada de experiência, mas muita vontade de se aventurar pelo mundo. Esta foi minha primeira viagem e foi quando me despertei para o montanhismo.
O plano era tão simples que chegava a ser despretensioso. Almejávamos chegar em Paranapiacaba, pitórica vila em estilo inglês, localizada no topo da Serra do Mar paulista e de lá descer aquela muralha verde, penetrando por uma picada alternativa à freqüentada trilha que leva ao Poço das Moças, para de lá pegar o caminho que leva até rodovia Piaçaguera e chegar ao Guarujá.
De praia em praia, caminhando pela areia e pelos costões, queríamos chegar até o Rio e em Angra dos Reis, subir novamente a Serra do Mar e chegar no vale do Paraíba, para depois ir para um dos pontos mais altos da Mantiqueira, o Pico das Agulhas Negras.
Realizamos todo este percurso com apenas cinqüenta reais no bolso. Pedimos carona e sem grana fomos parar em Resende, onde passei minha primeira noite dormindo na rua na vida, nesta época, sem querer, acabei aprontando umas de "mendigo" de montanha...
Foram muitas aventuras e muitos aprendizados, mas sem querer me alongar em tudo o que aconteceu, vou apenas focar o final desta minha experiência, que foi a primeira vez que eu estive no Planalto de Itatiaia.
Chegamos já de madrugada na garganta do Registro, não por menos, como não havia condução até ali, fomos à pé desde Engenheiro Passos. Mesmo já mortos de cansado, caminhamos até o Brejo da Lapa, onde eu passei uma das melhores noites da minha vida, com direito à chá com leite condensado, para tossir de doce e um céu estrelado que só quem viu sabe o que é.
Com o amanhecer, pude apreciar a beleza do lugar e o sossego das Matas de Araucária, a árvore que eu mais gosto e que tem um significado especial para mim. O resto do dia foi preenchido com a caminhada até as proximidades da portaria do parque, onde mocamos nossa barraca em uma entrada à direita, ao lado de um rio cristalino em uma pequena depressão em meio aos campos de altitude.
No dia seguinte fomos até as Prateleiras. Já fazia alguns anos que meu parceiro não ia para lá e ele, Maximo Kausch, ficou admirado como era perto aquela montanha, já que anos atrás ele havia demorado muito mais tempo e havia feito muito mais esforço para chegar lá. Calculando a idade destes "anos atrás", acho que meu amigo deveria ter uns 14 ou 15 anos e uns 20 ou 30 centímetros de altura a menos (o Max era baixinho quando era moleque!).
No dia seguinte continuamos nossa aventura e fomos até o Pico das Agulhas Negras. Novamente os anos que haviam se passado sem que meu "guia" estivesse lá nos fez passar por uns apertos e erramos o caminho. Acabamos chegando ao cume depois de subir por uma chaminé, por um trepa pedra que já nem lembro o nome, mas que foi uma grande aventura na época.
Esqueci alguns nomes de lugares, de trilhas e outros detalhes, mas não esqueço nunca a altitude daquele pico: 2887 metros!(mais tarde o geógrafo Lorenzo Biagini mediu 2792...) Outra coisa que eu não esqueci foi o sentimento que tive por estar ali naqueles dias. Uma sensação de liberdade, de descobrimentoe aventura que me fez ter certeza que era isso o que eu queria para a minha vida.
No caminho de volta, fomos supreendidos por uma tempestade elétrica e o simpático riozinho ao lado de nossa barraca transbordou e nos ensinou várias coisas sobre os imprevistos e as gambiarras para resolvê-los. Dentre os imprevistos, o mais grave foi que ficamos sem comida lá em cima, entretanto fomos ajudados por um professor de Geografia que estava ali de turismo e nos deu uns pacotes de sopa.
Descemos todo aquele caminho com as mochilas vazias e a alma cheia. Fomos aprimorando o que aprendemos em Itatiaia naquela vez em outras que estivemos ali, algumas delas nos aprofundando em regiões menos freqüentadas do Planalto e, diga-se de passagem, proibidas...
Este conhecimento foi super importante para, um ano depois, eu e Maximo empreendermos a viagem mais louca de nossas vidas, quando demos uma volta completa pelo Sul do continente, percorrendo 10 mil Km de carona, escalando montanhas de gelo e chegando ao fim do mundo, literalmente.
Voltei para o PNI várias vezes. Em uma delas, em 2002, cheguei lá para não poder entrar, já que havia ocorrido uma grande queimada e o parque ficou fechado por meses. Depois que o parque reabriu, visitei o PNI outras vezes, mas aquele sentimento que eu tive na primeira vez já não estava presente. Eu senti isso em diversas montanhas, mas em Itatiaia já não rolava mais. Parecia que aquele meio natural era uma extensão da cidade, tamanho eram as regras e restrições.... A parte central deste sentimento que era a liberdade, já não existia mais, aventura então?
Aos poucos, a paz que eu sentia quando eu ia para Itatiaia foi substituída pela raiva e pela indignação em estar em lugar tão especial e não poder mais fazer aquilo que eu sempre fiz. Já não podia acampar nem mesmo fora do parque, nunca mais pude deitar numa noite estrelada no gramado do brejo da Lapa, sendo que minhas noites teriam que ser no camping caro e sem graça do Alsene.
Perdi a motivação de ir pro PNI e me conformei em buscar aquele meu sentimento em lugares mais distantes que não fossem uma Unidade de Conservação, é claro, já que Parque no meu país tem uma política de visitação igual à uma reserva de conservação da natureza, sem, é claro que tenhamos um preservação como temos em uma reserva.
Já faz muito tempo que não vou pra Itatiaia, pois as coisas que me faltam para fazer por lá não são permitidas e já não tenho a mesma disposição de dar "cambau" como antes, me cansei de ser um montanhista ilegal, embora não veja nenhum ilegalidade em caminhar no mato, contemplar a natureza e conhecer novas e diferentes paisagens.
3 comentários:
- Paulo Roberto - Parofes disse...
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Cara...
Muito legal "o começo".
Massssss, não desanime. Apesar de todas as regras chatas, desagradáveis, se você der sorte de ir em um final de semana e conseguir se sentir absolutamente sozinho, reviverá aquele sentimento ha tempos perdido.
Eu tive a felicidade de sentir exatamente isso na última ída até lá. Fiquei completamente sozinho, ninguém a minha volta. Fiz uma caminhada que ninguém fez no dia, e praticamente ninguém faz. Foi maravilhoso...
A chatisse rola, e o parque até que está bem preservado!
Se tiver tempo e paciência avisa, a gente dá uma pernada lá...
Abs - 18 de setembro de 2009 às 19:38
- Unknown disse...
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quantas histórias vividas hein brow!!Boas aventuras por aí... abs
- 20 de setembro de 2009 às 02:12
- tacio philip disse...
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Vou desenterrar umas fotos antigas, um dos primeiros lugares que acampei foi em Paranapiacaba também (mas prometi não voltar mais por lá!) :-)
- 20 de setembro de 2009 às 16:20