:: Veja a história que antecede este relato
Sair de La Paz às 15:00 de sábado, chegar ao refúgio Huayna Potosi, à 4700 metros em Zongo, Bolívia às 17:00 horas. Acordar 1:47 da madrugada, começar a caminhar às 3 horas. Chegar ao cume de uma montanha de 6088 metros às 13:00 horas no domingo e regressar onde tudo começou às 19:00 para às 21:00 horas estar em um Hotel no centro da cidade... Este é um fim de semana montanhístico boliviano!
Nunca havia escalado uma montanha andina tão rápido! Esta ascensão expressa no Huayna Potosi até me pareceu um programa de fim de semana na Serra do Mar no Paraná, ou uma escaladinha expressa na Pedra do Baú em São Paulo. De fato, isto só foi possível por que estávamos super aclimatados e por que o Huayna Potosi não era novidade tanto para mim quanto para o Marcio.
Marcio escalou esta montanha em 1999 com uma expedição de agência. Um ano mais tarde, ele esteve com seu amigo Mad de novo na Bolívia, mas não chegou ao cume do Huayna. Eu estive na montanha com o Maximo e o Fábio no verão de 2001, com neve até a cintura e sem equipamentos para pelo menos tentar o cume. Voltei para a região em 2002 e fiz o cume do Huayna Potosi na época correta, mas com condições de tempo desfavoráveis.
Desta vez, não era para tentarmos este cume, pois já estamos no limite do tempo para voltar ao Brasil. Entretanto, era impossível resistir a esta escalada tão linda. Foi por isso que decidimos fazer uma escalada expressa, sem acampamentos, fazendo o ataque ao cume da base da montanha.
Foi uma odisseia de 16 horas! Esforço até o limite do corpo. Marcio que já correu dezenas de maratonas, já pedalou do Rio até Natal, Belém e Buenos Aires, chegou a ficar sem energia no corpo e apelar ao velho e calórico chocolate para se ¨abastecer¨. Deu certo e enfim escalamos uma montanha juntos!
Escalar o Huayna Potosi não é grande coisa. Esta montanha é a mais popular da Cordilheira Real na Bolívia, tanto que ela é a única a ter refúgios. Mesmo assim, ela não é tecnicamente a mais fácil. Montanhas como o Illimani, Parinacota e até mesmo o Sajama, tem rotas normais que são meramente trekking de altitude. Diferentemente o Huayna Potosi tem dois trechos bastante inclinados, sendo que o último, que leva até o cume, tem 200 metros de altura e uma inclinação de aproximadamente 45 graus, que faz necessário o uso de piolets e corda, pois um erro pode resultar numa queda grande em direçao à uma enorme greta.
Nesta última parede, escalamos em estilo francês, ou seja, fomos encordados mas sem bater proteçoes e sem fazer reuniões, apenas escalando simultaneamente. Como eu estava com meus piolets técnicos, se o Marcio caísse, eu iria segurar sua queda. Neste tipo de escalada, o guia (eu) não pode cair!
Assim fomos e rapidamente chegamos ao afiado cume do Huayna. enfim, eu pude ter a maravilhosa vista do topo desta montanha para o resto da Cordilheira Real, privilégio que não tive quando escalei esta montanha a 5 anos atrás. Do cume, avistamos todas as outras montanhas mais o lago Titikaka, o altiplano e a cidade de El Alto.
A descida foi tranquila e sem segredos. Montei um rapel com uma estaca de neve para o Marcio descer. Depois, quando ele já estava na fim da corda, me dava uma segurança, recolhendo-a enquanto eu desescalava a parede. Fizemos isso rapidamente e enfim já estávamos na base, restando somente regressar caminhando (e quanto caminhar!) até a estrada, para pegarmos o carro e voltar para a cidade depois de nosso fim de semana boliviano.
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:: Veja o tracklog do Huayna Potosi no Rumos: Navegação em Montanhas!
Nascer do sol durante a escalada
No topo do primeiro escalão, com vista para o Illimani no horizonte
Acima das nuvens
Gretas no meio caminho e vista para o Tiquimani, uma das montanhas mais difíceis da região
Escalada francesa no segundo escalão
Inclinação do segundo escalão
O pequeno e afiado cume do Huayna
Auto retrato no cume
Marcio imitando Tenzing Norgay
Fantástica vista do cume do Huayna para o norte da Cordilheira Real
O altiplano desde o cume. A cidade de El Alto está no horizonte