:: Veja a história que antecede este relato
O Tronador é um velho vulcão que explodiu. Apresenta por isso uma forma diferente que o faz um interessante local para a prática do Andinismo. Ele tem três cumes, um chileno, um argentino e um fronteiriço internacional, entretanto os dois últimos são os mais acessíveis pois do lado chileno a aproximação é muito difícil.
O Monte Tronador e um velho conhecido nosso. Estivemos aqui pela primeira vez em 2000, durante nossa Odisseia Austral. Nesta época não tínhamos nem equipamentos nem experiência para escalá-lo, embora achássemos que sim, e não pudemos tentá-lo, uma vez que os sócios do Club Andino de Bariloche nos impediu de fazê-lo.
Voltamos para Bariloche três anos mais tarde, com mais equipamentos e experiência e fizemos o cume Argentino sem dificuldades.
Nesta nossa última experiência pudemos diferenciar várias rotas alternativas interessantes, com maior dificuldade técnica e pouco risco, ou seja, tudo o que queríamos fazer nesta atual viagem depois de vivenciarmos tanto gelo ruim e perigoso. Chegamos em Bariloche com a esperança então de enfim poder fazer uma boa escalada, já que no norte nossa sorte não foi boa. Entretanto nossa chegada ao sul foi saudada apenas com mal tempo.
Subimos a trilha que dá acesso ao Tronador debaixo de uma chuva entediante e passamos nossa primeira noite no refúgio Otto Meiling sendo “saudados” pela “gentileza” do pessoal do CAB.
Nossa sorte mudou no dia seguinte e enfim pudemos nos livrar dos arrogantes refugeros, o tempo abriu, pegamos nossas coisas e elevamos nosso acampamento para o colo entre o cume argentino e o internacional, mil metros mais alto que ali.
A aproximação a nosso acampamento avançado foi muito penosa. Depois de dias de mal tempo, tivemos que abrir caminho na neve e correr risco de cairmos numa greta escondida. No entanto nosso maior problema foi percorrer o caminho que escolhemos para chegar ao colo, pois ao invés que dar a volta por baixo do filo de la vieja, que é o divisor de águas entre dois glaciares. Acabamos indo por cima dele e não conseguíamos desce-lo, de forma que fizemos umas manobras arriscadas para quem carregava mochilas pesadas.
Apenas chegamos ao local do acampamento quase dez horas depois que saímos do refúgio. O local de acampamento era um reflexo do glaciar, estava cheio de gretas, entretanto não tivemos escolha, acampamos ali mesmo.
No dia seguinte acordamos cedo para fazer uma escalada. Escolhemos uma rota pelo lado sul do cume argentino, que desde o acampamento parecia ser fácil e fomos abrindo caminho entre a neve e as gretas até chegar na base da parede.
O início da rota era muito inclinada, entretanto uma enfiada de corda era suficiente para vencer a parede e chegar a uma rampa menos inclinada que ia direto ao cume. Estávamos esperançosos.
Maximo começou a guiar. Logo equipou-se e começou a escalar imaginando fazer uma linha reta até o topo da parede de gelo. Entretanto, seus planos se foram aos ares quando ele percebeu que o gelo era duro demais e assim começou a fazer uma travessia para a direita.
Eu que estava na segurança o via sofrendo na rota e não imaginava a dificuldade que estava passando. Simplesmente o gelo era péssimo, extremamente duro, impenetrável pelas piquetas e menos ainda pelos crampons que nem sequer davam sustentação para que pudéssemos bater as piquetas.
A escalada pela parede vertical durou horas, e foi quase que uma escalada artificial em gelo. Os parafusos que levávamos não foram suficientes para fazer nem mesmo uns oito metros de parede e tivemos que montar uma parada no meio da parede.
Na minha hora de subir, mesmo indo de segundo sofri muito escalar. Era preciso bater umas oito vezes a piqueta para que ela entrasse e mesmo assim ficava instável, foi horrível.
Depois desta parada, tínhamos para frente uma outra travessia para a esquerda, passando por baixo de uma linha rochosa em um local não muito inclinado, mas que se mostrou um inferno.
Simplesmente além de gelo duro, ele era também fino e muitas piquetadas terminavam na rocha logo abaixo. Cada movimento era friamente calculada e depois de umas duas horas finalmente terminamos o trecho.
Após montarmos outra parada, tínhamos pela frente mais uma centena de metros de escalada em gelo numa inclinação que variava de 60 a 70 graus. Nossa esperança era de que neste trecho o gelo fosse melhor, mas não foi isso o que aconteceu.
Maximo começou a guiar, e ao invés de bom gelo, ele encontrou uma camada de neve em pó e abaixo gelo verglass duríssimo e impenetrável. Logo nas primeiras piquetadas ouvi um estampido e uma enorme placa de gelo abaixo de nossos pés rachou, só não cedendo talvez por intervenção divina. Mesmo assim, com esperança, continuamos.
Era muito lento o progresso, mas assim mesmo Maximo ia pegando distancia, subindo os quase oitenta metros da extensão da corda e chegando a um lugar onde ele quis montar uma parada.
Toda esta cordada demorou quase uma hora e meia, o que quase me congelou lá em embaixo na segurança. Com todo este lento pregresso, o sol de fim de tarde nos fazia lembrar que o dia não ia durar muito. Eram 4 da tarde.
Assim, ao invés de eu subir para continuarmos, foi Maximo que desceu.
Foi uma decisão difícil, pois estávamos em teoria na parte mais fácil da rota, entretanto, com o gelo ruim, nosso progresso era muito lento e estávamos fadados a chegar no cume apenas a noite e exaustos.
Pelo rádio convenci Maximo a descer, foi uma decisão minha. Ver Maximo subindo com tanta dificuldade, o dia chegando ao fim, tive maus pensamento sobre como poderia terminar aquela escalada e tive muito medo de me dar mal.
Convencido o Maximo, em três Abalakovs chegamos no chão semi firme e descemos para a barraca. No caminho, observando onde havíamos chegado, pude ver que meu palpite estava errado e poderíamos ter chegado ao cume uma vez que já estávamos no meio da parede e o sol somente se pôs as nove da noite.
Foi terrível para mim. Fiquei me sentindo um covarde e um incapaz, pois não foi apenas no Tronador, mas em todas as montanhas que estivemos nesta viagem eu falhei. Na verdade tivemos uma grande má sorte em tudo nesta viagem. Burocracia, calor excessivo, gelo ruim…. Tudo deu errado. E não fizemos cume algum a não ser o San Francisco.
A experiência no Tronador me serviu entretanto para aprender muito sobre gelo. Segundo o Maximo, nunca peguei gelo bom na vida, pois todas as vezes que estivemos juntos escalando gelo, sempre foram sob condições adversas, e especialmente nesta oportunidade no Tronador foi segundo o Maximo o pior gelo de sua vida… e olha que nisso ele tem muita experiência.
Fui dormir pensando em revanche, mas no dia seguinte, ao invés de voltar para a montanha e passar por apuros novamente, resolvemos deixar de lado a perrengue e fomos a uma greta treinar escalada em gelo.
Foi uma excelente opção, aprendi muito sobre técnicas e inclusive escalei muito e me diverti bastante.
Assim chegamos ao fim das escaladas nesta viagem, com um sentimento de fracasso mas sem a culpa de ter falhado. Entretanto para mim fica uma pedra entalada e vontade de pegar gelo bom para poder tirar a dúvida sobre os medos que tive na montanha desta vez.
Aprendi muito, mas ainda tenho que pôr em teste o que aprendi. Volto para casa para viver minha nova vida mas novamente com a visão de que tenho que voltar logo para a montanha e revisar as deficiências que tive nesta expedição.
Espero não demorar muito para chegar em casa. Estamos a milhares de quilômetros de distância e para piorar o carro quebrou. Estamos tentando resolver o problema, mas inda não sabemos o defeito.
Ps. Novamente peco desculpas pelos erros de gramaticas e português, não se esqueçam que os teclados aqui ao muito diferentes.
:: Veja mais fotos do Tronador
O Tronador é um velho vulcão que explodiu. Apresenta por isso uma forma diferente que o faz um interessante local para a prática do Andinismo. Ele tem três cumes, um chileno, um argentino e um fronteiriço internacional, entretanto os dois últimos são os mais acessíveis pois do lado chileno a aproximação é muito difícil.
O Monte Tronador e um velho conhecido nosso. Estivemos aqui pela primeira vez em 2000, durante nossa Odisseia Austral. Nesta época não tínhamos nem equipamentos nem experiência para escalá-lo, embora achássemos que sim, e não pudemos tentá-lo, uma vez que os sócios do Club Andino de Bariloche nos impediu de fazê-lo.
Voltamos para Bariloche três anos mais tarde, com mais equipamentos e experiência e fizemos o cume Argentino sem dificuldades.
Nesta nossa última experiência pudemos diferenciar várias rotas alternativas interessantes, com maior dificuldade técnica e pouco risco, ou seja, tudo o que queríamos fazer nesta atual viagem depois de vivenciarmos tanto gelo ruim e perigoso. Chegamos em Bariloche com a esperança então de enfim poder fazer uma boa escalada, já que no norte nossa sorte não foi boa. Entretanto nossa chegada ao sul foi saudada apenas com mal tempo.
Subimos a trilha que dá acesso ao Tronador debaixo de uma chuva entediante e passamos nossa primeira noite no refúgio Otto Meiling sendo “saudados” pela “gentileza” do pessoal do CAB.
Nossa sorte mudou no dia seguinte e enfim pudemos nos livrar dos arrogantes refugeros, o tempo abriu, pegamos nossas coisas e elevamos nosso acampamento para o colo entre o cume argentino e o internacional, mil metros mais alto que ali.
A aproximação a nosso acampamento avançado foi muito penosa. Depois de dias de mal tempo, tivemos que abrir caminho na neve e correr risco de cairmos numa greta escondida. No entanto nosso maior problema foi percorrer o caminho que escolhemos para chegar ao colo, pois ao invés que dar a volta por baixo do filo de la vieja, que é o divisor de águas entre dois glaciares. Acabamos indo por cima dele e não conseguíamos desce-lo, de forma que fizemos umas manobras arriscadas para quem carregava mochilas pesadas.
Apenas chegamos ao local do acampamento quase dez horas depois que saímos do refúgio. O local de acampamento era um reflexo do glaciar, estava cheio de gretas, entretanto não tivemos escolha, acampamos ali mesmo.
Local de acampamento no Tronador.
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Aproximação ao acampamento alto. |
No dia seguinte acordamos cedo para fazer uma escalada. Escolhemos uma rota pelo lado sul do cume argentino, que desde o acampamento parecia ser fácil e fomos abrindo caminho entre a neve e as gretas até chegar na base da parede.
O início da rota era muito inclinada, entretanto uma enfiada de corda era suficiente para vencer a parede e chegar a uma rampa menos inclinada que ia direto ao cume. Estávamos esperançosos.
Maximo começou a guiar. Logo equipou-se e começou a escalar imaginando fazer uma linha reta até o topo da parede de gelo. Entretanto, seus planos se foram aos ares quando ele percebeu que o gelo era duro demais e assim começou a fazer uma travessia para a direita.
Eu que estava na segurança o via sofrendo na rota e não imaginava a dificuldade que estava passando. Simplesmente o gelo era péssimo, extremamente duro, impenetrável pelas piquetas e menos ainda pelos crampons que nem sequer davam sustentação para que pudéssemos bater as piquetas.
A escalada pela parede vertical durou horas, e foi quase que uma escalada artificial em gelo. Os parafusos que levávamos não foram suficientes para fazer nem mesmo uns oito metros de parede e tivemos que montar uma parada no meio da parede.
Na minha hora de subir, mesmo indo de segundo sofri muito escalar. Era preciso bater umas oito vezes a piqueta para que ela entrasse e mesmo assim ficava instável, foi horrível.
Depois desta parada, tínhamos para frente uma outra travessia para a esquerda, passando por baixo de uma linha rochosa em um local não muito inclinado, mas que se mostrou um inferno.
Simplesmente além de gelo duro, ele era também fino e muitas piquetadas terminavam na rocha logo abaixo. Cada movimento era friamente calculada e depois de umas duas horas finalmente terminamos o trecho.
Após montarmos outra parada, tínhamos pela frente mais uma centena de metros de escalada em gelo numa inclinação que variava de 60 a 70 graus. Nossa esperança era de que neste trecho o gelo fosse melhor, mas não foi isso o que aconteceu.
Maximo começou a guiar, e ao invés de bom gelo, ele encontrou uma camada de neve em pó e abaixo gelo verglass duríssimo e impenetrável. Logo nas primeiras piquetadas ouvi um estampido e uma enorme placa de gelo abaixo de nossos pés rachou, só não cedendo talvez por intervenção divina. Mesmo assim, com esperança, continuamos.
Era muito lento o progresso, mas assim mesmo Maximo ia pegando distancia, subindo os quase oitenta metros da extensão da corda e chegando a um lugar onde ele quis montar uma parada.
Toda esta cordada demorou quase uma hora e meia, o que quase me congelou lá em embaixo na segurança. Com todo este lento pregresso, o sol de fim de tarde nos fazia lembrar que o dia não ia durar muito. Eram 4 da tarde.
Assim, ao invés de eu subir para continuarmos, foi Maximo que desceu.
Foi uma decisão difícil, pois estávamos em teoria na parte mais fácil da rota, entretanto, com o gelo ruim, nosso progresso era muito lento e estávamos fadados a chegar no cume apenas a noite e exaustos.
Pelo rádio convenci Maximo a descer, foi uma decisão minha. Ver Maximo subindo com tanta dificuldade, o dia chegando ao fim, tive maus pensamento sobre como poderia terminar aquela escalada e tive muito medo de me dar mal.
Convencido o Maximo, em três Abalakovs chegamos no chão semi firme e descemos para a barraca. No caminho, observando onde havíamos chegado, pude ver que meu palpite estava errado e poderíamos ter chegado ao cume uma vez que já estávamos no meio da parede e o sol somente se pôs as nove da noite.
Foi terrível para mim. Fiquei me sentindo um covarde e um incapaz, pois não foi apenas no Tronador, mas em todas as montanhas que estivemos nesta viagem eu falhei. Na verdade tivemos uma grande má sorte em tudo nesta viagem. Burocracia, calor excessivo, gelo ruim…. Tudo deu errado. E não fizemos cume algum a não ser o San Francisco.
A experiência no Tronador me serviu entretanto para aprender muito sobre gelo. Segundo o Maximo, nunca peguei gelo bom na vida, pois todas as vezes que estivemos juntos escalando gelo, sempre foram sob condições adversas, e especialmente nesta oportunidade no Tronador foi segundo o Maximo o pior gelo de sua vida… e olha que nisso ele tem muita experiência.
Fui dormir pensando em revanche, mas no dia seguinte, ao invés de voltar para a montanha e passar por apuros novamente, resolvemos deixar de lado a perrengue e fomos a uma greta treinar escalada em gelo.
Foi uma excelente opção, aprendi muito sobre técnicas e inclusive escalei muito e me diverti bastante.
Assim chegamos ao fim das escaladas nesta viagem, com um sentimento de fracasso mas sem a culpa de ter falhado. Entretanto para mim fica uma pedra entalada e vontade de pegar gelo bom para poder tirar a dúvida sobre os medos que tive na montanha desta vez.
Aprendi muito, mas ainda tenho que pôr em teste o que aprendi. Volto para casa para viver minha nova vida mas novamente com a visão de que tenho que voltar logo para a montanha e revisar as deficiências que tive nesta expedição.
Espero não demorar muito para chegar em casa. Estamos a milhares de quilômetros de distância e para piorar o carro quebrou. Estamos tentando resolver o problema, mas inda não sabemos o defeito.
Ps. Novamente peco desculpas pelos erros de gramaticas e português, não se esqueçam que os teclados aqui ao muito diferentes.
Na parede |
Escalando de segundo na parede |